Quando comprei esse domínio há mais de um ano atrás, não imaginava que demoraria tanto para finalmente começar a escrever.
A insegurança de escrever em outra lingua que não a minha própria fez com que meus planos fossem adiados mais de uma vez.
Meu lado racional entende que cometer erros é algo comum e que minha escrita em inglês vai demorar a se comparar com meu Português isso se um dia chegar lá e que não é o fim do mundo.
Meu lado irracional acredita que sendo alguém que já vive fora há mais de 6 anos, meu inglês deveria estar bom o suficiente para que eu me sentisse confortável em escrever como se fosse minha primeira lingua. A realidade é que nunca será.
Mas vamos lá, esse primeiro post não é para falar sobre minhas dificuldades em escrever em inglês. O assunto é um pouco mais sério.
Há algumas semanas atrás eu fui à um evento de música latina aqui em Londres depois de um bom tempo sem ir em baladas. E como a boa brasileira que sou, aproveitei o calor e fui de shorts jeans e uma blusa transparente com um top por baixo (foto abaixo).
“um indivíduo decidiu que seria totalmente normal
passar a mão na minha bunda”
Para a minha não tão surpresa assim, um indivíduo decidiu que seria totalmente normal passar a mão na minha bunda, já que meus shorts eram um convite à isso. Infelizmente sabemos bem que esse tipo de situação é mais comum do que queríamos que fosse.
Depois de ver a foto com a roupa que usei, muitos homens vão dizer “Claro que com essa roupa você estava pedindo”, mas o que mais me assusta, é que muitas mulheres vão dizer ou pensar o mesmo.
Ainda que tantas informações e campanhas estejam sendo distribuídas, pessoas continuam a usar a vestimenta de uma mulher como desculpa para assédio.
“Quanto mais reveladoras as roupas de uma mulher são, mais chances ela vai ter de ser assediada sexualmente”
Trazendo algumas estatísticas para jogo, para não virem falar que inventei. O site britânico, the Independent, em 2019 publicou uma matéria em que homens afirmavam que “quanto mais reveladoras as roupas de uma mulher são, mais chances ela vai ter de ser assediada sexualmente”
E não vamos falar apenas sobre roupas. Mulheres são diariamente acusadas de dormir com alguém de cargo superior no trabalho ao subirem de cargo. Mulheres recebendo beijos não solicitados após ganharem uma partida de futebol. Mulheres sendo acusadas de se oferecerem para um homem apenas por terem sido simpáticas. E quem somos nós para reclamar?
O quando ou o como não importa, mulheres serão sempre as culpadas pelo comportamento dos homens.
A grande questão é: Se até mesmo outras mulheres descredibilizam uma vítima de assédio, o que mais podemos fazer?
O que nós, individualmente, podemos fazer para prevenir que mais mulheres sejam assediadas?
Fale! Muitas das vezes temos medo de retaliação, mas se não falarmos, quem vai?
Não culpe a vítima. Em diversos casos descredibilizamos a vítima, até mesmo a humilhando.
Existem diversas pesquisas que tratam sobre o assédio sexual, porém não precisamos pesquisar para saber que esse tema é real. Todas nós já estivermos nesse lugar. Todas nós já fomos de alguma forma silenciadas e questionadas pelo menos uma vez em nossa vida. Todas já sentimos um homem tentando tirar “casquinha” no transporte público lotado e festas. Já questionamos a promoção de outra mulher, já questionamos a veracidade de uma acusação de assédio (sim, eu sei que pode acontecer de ser mentira, o assunto não é esse).
“…eu decidi não falar com o segurança. Seria a palavra do homem contra a minha e como eu estava de costas, ele poderia sempre alegar que não foi ele…”
Em relação ao que eu passei, eu decidi não falar com o segurança. Seria a palavra do homem contra a minha e como eu estava de costas, ele poderia sempre alegar que não foi ele. E todos sabemos como essas histórias acabam. O homem raramente paga pelas suas ações.
Amiga, primeiro eu quero dizer que sinto muito!!! Eu simplesmente não uso algumas roupas por medo. Morando em NY eu me sinto bem mais confortável do que no Rio mas ainda sim é complicado. Fui em uma festa uma vez aqui e aconteceu a mesma coisa, eu segurei o cara pela camisa é pedi pra minha colega chamar alguém e ela simplesmente falou “solta ele, ninguém vai fazer nada aqui e você ainda vai ser expulsa da festa”. Enfim, depois disso nunca mais pisei numa festa do tipo. Agora só frequento festas LGBT+ pois é onde me sinto segura
Obrigada pelo carinho de sempre, amiga.
Infelizmente essas situações estão longe de acabar e seguimos lutando como podemos.